sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Feira de Vaidades


As memórias de que falo já não são as minhas. Não as vivi; limitei-me a contemplá-las num passado de imagens e de palavras perdidas por aí.
Essas memórias são Hollywood. A Hollywood das mil luzes, das limusinas, das passadeiras vermelhas e das espampanantes prémieres. Eram histórias do tempo dourado da «Colina Encantada», em que a vida pulsava ao ritmo de mulheres deslumbrantes, milionários excêntricos e capitalistas sedentos de lucro.
Era nessa Hollywood dos sonhos que as grandes actrizes se faziam estrelas cadentes, luminosas e quase perfeitas. Rita Haywoorth, Greta Garbo, Katharine Hepburn, Grace Kelly, Marylin Monroe… ícones de um tempo perdido, de um tempo em que todos acreditavam na feira de vaidades que saltava do ecrã para deslumbrar os comuns mortais. Vendia-se o permanente glamour das estrelas, intocável perante o mundo da realidade. Como se no céu, ou seja Hollywood, tudo fosse perfeito.
Talvez essa memória narrada não faça, hoje, qualquer sentido. Afinal, Hollywood era humana não divina, e as estrelas não brilhavam para sempre. Mas resta, ainda assim, o brilho ténue, mas normalmente fugaz, das sucessoras dos mitos. Uma nesga de glamour e de sonho que, a exemplo, a capa da última Vanity Fair parece curiosamente enunciar pelo seu bom gosto. Scarlett Johansson e Keira Knightley, estrelas de hoje, igualmente deslumbrantes mas sem peles, jóias ou lantejoulas; simplesmente nuas, como a Hollywood da feira de vaidades em que já ninguém acredita. Tudo com uma candura sofisticada e uma espécie de glamour pontual, como que imanado das estrelas passadas que iluminavam a «Colina Encantada». Perfeito para vender sonhos, e com o toque credível da objectiva criativa de Annie Leibovitz.