sexta-feira, maio 12, 2006

Kissinger, por Zeca Afonso

Os Fantoches de Kissinger

Em toda parte baqueia
A muralha imperialista
Na ponta duma espingarda
Os povos da Indochina
Varrem da terra sangrenta
Os fantoches de Kissinger
Mas aqui também semeias
No pátio da tua fábrica
No largo da tua aldeia
A fome, a prostituição
São filhas da mesma besta
Que Kissinger tem na mão
Valor à Mulher Primeira
Na luta que nos espera
Só não há vida possível
Na liberdade comprada
Na liberdade vendida
A morte é mais desejada
A NATO não chega a netos
Abaixo o hidrovião
Na ponta duma espingarda
O Povo da Palestina

Mandou a Golda Meir
Uma mensagem divina
Da CIA não tenhas pena
Tem carne viva nas garras
É a pomba de Kissinger
Toda a América Latina
Se lembra das suas farras
A mesma tropa domina
A mesma tropa domina
Só um é embaixador
Mas nada nos abalança
A dormir sobre a calçada
Faz como o trabalhador
Dorme sobre a tua enxada
Faz como o atirador
Dorme sobre a espingarda

quinta-feira, maio 11, 2006

Um Tango

Tentado pela Argentina, «indomable mujer».
Acercado pelo tango, por Gardel no «fervor de Buenos Aires».
E ouvindo incessantemente «Por Una Cabeza»

Por una cabeza de un noble potrillo
que justo en la raya afloja al llegar
y que al regresar parece decir:
no olvides, hermano,
vos sabes, no hay que jugar...
Por una cabeza, metejon de un dia,

de aquella coqueta y risueña mujer
que al jurar sonriendo, el amor que esta mintiendo
quema en una hoguera todo mi querer.
Por una cabeza todas las locuras

su boca que besa borra la tristeza,
calma la amargura.
Por una cabeza si ella me olvida

que importa perderme,
mil veces la vida para que vivir...
Cuantos desengaños, por una cabeza,

yo jure mil veces no vuelvo a insistir
pero si un mirar me hiere al pasar,
su boca de fuego, otra vez, quiero besar.
Basta de carreras, se acabo la timba,

un final reñido yo no vuelvo a ver,
pero si algun pingo llega a ser fija el domingo,
yo me juego entero, que le voy a hacer.

Carlos Gardel/Alfredo Le Pera

quinta-feira, maio 04, 2006

20 Anos Depois de Borges (5)

IMEDIAÇÕES (1923)

Os pátios e a sua antiga certeza,
os pátios cimentados
na terra e no céu.
As janelas com grades
de onde a rua se torna
familiar como um candeeiro.
As alcovas profundas
onde arde o mogno em tranquila chama
e o espelho de ténues resplendores
é como um remanso na sombra.
As encruzilhadas escuras
que projectam quatro infinitas distâncias
em arredores de silêncio.
Nomeei os lugares
Onde a ternura alastra
E estou só e comigo.
Jorge Luis Borges